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Boletim da IACM de 9 de março de 2015

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Ciência/Humanos — O consumo de cannabis pode não ter um efeito significativo sobre os acidentes de trânsito, revela estudo de grande escala nos EUA

Um novo estudo do ministério da administração interna norte-americano (National Highway Traffic Safety Administration) indica que o consumo de cannabis não aumenta significativamente o risco de acidentes de trânsito. O estudo observou 9.000 motoristas ao longo de 20 meses. Descobriu-se que os motoristas que consomem regularmente cannabis têm 25% mais de probabilidades de se envolverem num acidente de trânsito. No entanto, quando os investigadores passaram a ter em conta a idade, sexo e nível de consumo de álcool entre os consumidores de cannabis, descobriram que foram esses fatores os responsáveis pelo aumento. O consumo de cannabis, em si, não teve impacto visível no risco de acidente, depois de adicionados os outros fatores-

"As análises com os ajustes para a idade, sexo, etnia e nível de concentração de álcool não mostraram um aumento significativo nos níveis de risco de acidente relacionado com a presença de drogas", afirma o estudo. "Esta descoberta indica que essas outras variáveis (idade, género, etnia e consumo de álcool) estiveram altamente relacionadas com o uso de drogas e são responsáveis por grande parte do aumento do risco associado ao consumo de drogas ilegais e ao THC." O estudo mostra que a condução sob o efeito do álcool continua a ser um grande problema, mas também encontrou evidências de que tem diminuído nos últimos anos.

UPI de 7 de Fevereiro de 2015

Nota de prensa del National Highway Traffic Safety Administration de 6 de Fevereiro de 2015

Ciência/Humanos — Como a cannabis aumenta o apetite

O desejo incontrolável de comer depois de consumir cannabis parece ser motivado pelos neurónios no cérebro que estão normalmente envolvidos na supressão do apetite, de acordo com um novo estudo de investigadores da Faculdade de Medicina da Universidade de Yale, publicado na revista Nature. Tamas Horvath, o autor principal, e seus colegas estabeleceram uma forma de monitorizar os circuitos cerebrais que nos levam a comer manipulando seletivamente o caminho celular que medeia a ação do THC no cérebro, usando ratos transgénicos.

"Ao observar como o centro do apetite do cérebro responde à cannabis, fomos capazes de ver o que impulsiona a fome provocada pela cannabis e como esse mecanismo, que normalmente desliga o apetite, se torna responsável pela vontade de comer", disse Horvath, diretor do Programa de Yale em Sinalização Celular e Neurobiologia do Metabolismo. "Ficámos surpreendidos ao descobrir que os neurónios que pensávamos serem responsáveis por desligar a vontade de comer, de repente estavam a ser ativados e a provocar fome, mesmo quando estamos cheios. Ele engana o sistema de alimentação central do cérebro", disse ele. As células nervosas a que chamamos neurónios pro-opiomelanocortina (POMC) são consideradas as principais responsáveis pela redução da vontade de comer quando estamos cheios. A ativação dos recetores canabinóides tipo 1 pelo THC promove a atividade das células POMC.

Koch M, Varela L, Kim JG, Kim JD, Hernández-Nuño F, Simonds SE, Castorena CM, Vianna CR, Elmquist JK, Morozov YM, Rakic P, Bechmann I, Cowley MA, Szigeti-Buck K, Dietrich MO, Gao XB, Diano S, Horvath TL. Hypothalamic POMC neurons promote cannabinoid-induced feeding. Nature. 18 fev 2015. [na imprensa]

Mulling the marijuana munchies: How the brain flips the hunger switch

Ciência/Humanos — Cannabis com muita concentração de THC aumenta o risco de psicose?

Como parte de um estudo recente sobre as consequências psicológicas da cannabis, uma equipa de investigadores do Reino Unido analisou os detalhes de incidentes psicóticos em primeiros episódios de pessoas que receberam tratamento nos hospitais do sul de Londres. “Em comparação com os doentes que nunca tinham experimentado cannabis, os consumidores de cannabis muito potente, como a skunk, apresentaram um risco três vezes maior de psicose”, explicou a autora principal do estudo, Dra. Marta Di Forti, professora do Instituto de Psiquiatria, Psicologia e Neurociência da King College London. "O risco para aqueles que consomem todos os dias foi ainda maior: um aumento de cinco vezes em comparação com pessoas que nunca consomem".

Di Forti M, Marconi A, Carra E, Fraietta S, Trotta A, Bonomo M, Bianconi F, Gardner-Sood P, O'Connor J, Russo M, Stilo SA, Marques TR, Mondelli V, Dazzan P, Pariante C, David AS, Gaughran F, Atakan Z, Iyegbe C, Powell J, Morgan C, Lynskey M, Murray RM. Proportion of patients in south London with first-episode psychosis attributable to use of high potency cannabis: a case-control study. Lancet Psychiatr. 18 fev 2015. [na imprensa]

UPI de 17 de fevereiro de 2015

Notícias

Alemanha — Bionorica requer a aprovação de medicamentos com THC

A empresa alemã Bionorica pediu às autoridades alemãs para aprovarem uma preparação de dronabinol em cápsulas. Até agora, os quadros clínicos aos quais se destina não são claros. A Bionorica já está a extrair o dronabinol (THC) de plantas de cannabis cultivadas na Áustria. Desde 2002 que as farmácias podem preparar medicamentos que contenham THC (cápsulas, soluções) a partir do dronabinol.

Deutsche Apothekerzeitung de 18 de fevereiro de 2015

EUA — Mais de 100 tribos de nativos americanos ponderam produzir cannabis

Mais de 100 tribos de nativos americanos manifestaram junto da FoxBarry Farms - uma empresa de gestão que está a participar na construção das primeiras instalações de cannabis dos EUA em terra tribal - o seu interesse na indústria de cannabis. Houve uma vaga de interesse desde que o Departamento de Justiça anunciou, o ano passado, que as tribos podiam produzir e comercializar cannabis nas suas terras desde que respeitem orientações específicas.

Huffingtion Post de 3 de fevereiro de 2015

Ciência/Animais — Efeitos antipsicóticos de canabidiol podem ser em parte mediados pela inibição da ativação dos microgliócitos

Os investigadores utilizaram um modelo animal de esquizofrenia para investigar o possível mecanismo de ação do CBD (canabidiol) na doença. Concluíram que os efeitos antipsicóticos deste canabinóide podem envolver "propriedades anti-inflamatórias e neuroprotetoras. Além disso, nossos dados sustentam a visão de que a inibição da ativação dos microgliócitos pode melhorar os sintomas da esquizofrenia." Os microgliócitos são células imunes no cérebro.

Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto, Universidade de São Paulo, Brasil.

Gomes FV, et al. Schizophr Res. 10 fev 2015. [na imprensa]

Ciência/Animais — Mecanismos de ação dos efeitos antidepressivos dos canabinóides

Um canabinóide sintético, que se liga ao recetor CB1, teve um efeito semelhante ao antidepressivo em ratinhos, e este efeito foi mediado por interações com o sistema colinérgico.

Universidade Médica de Lublin, Polónia.

Kruk-Slomka M, et al. Behav Brain Res. 7 fev 2015. [na imprensa]

Ciência/Animais — O THC, mas não outros canabinóides, demonstrou efeitos sobre a hiperresponsividade brônquica e atividade anti-inflamatória

Os investigadores compararam os efeitos do THC, do canabidiol (CBD), do cannabigerol (CBG), do canabicromeno (CBC), do ácido cannabidiolico (CBDA) e do tetrahydrocannabivarin (THCV) sobre as contrações da traqueia e broncoespasmos de uma cobaia. Concluíram que apenas o THC "demonstrou efeitos sobre a hiper-responsividade das vias respiratórias, atividade anti-inflamatória e atividade antitússica nas vias respiratórias".

King's College London, Reino Unido.

Makwana R, et al. J Pharmacol Exp Ther. 5 fev 2015. [na imprensa]

Ciência/Células — Porque é que o CBD aumenta os níveis de anandamida

Dados recentes sugerem que o CBD e THC elevam os níveis do endocanabinóide anandamida (AEA), quando administrados a humanos. Uma novo estudo mostra que o CBD não inibe as ações enzimáticas da FAAH humana (hidrolasa das amidas dos ácidos gordos), a enzima responsável pela degradação da anandamida, "e, portanto, a inibição da FAAH não pode explicar o aumento de quantidade de AEA a circular em humanos observado após o consumo de CBD". Ao invés, os cientistas descobriram que foram os efeitos sobre as proteínas que ligam os ácidos gordos (FABPs), proteínas intracelulares que medeiam o transporte de AEA para FAAH, os responsáveis pelo aumento das concentrações de endocanabinóides.

Universidade Stony Brook, Nova Iorque EUA.

Elmes MW, et al. J Biol Chem. 9 fev 2015. [na imprensa]