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Boletim da IACM de 22 de outubro de 2012

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Ciência/Humanos — A imagiologia da actividade cerebral mostra que os efeitos da cannabis variam consoante o indivíduo

Num estudo clínico com 21 homens saudáveis, que receberam 10 mg de THC por via oral, alguns participantes reagiram com sintomas psicóticos transitórios menores enquanto que outros não. Esta discrepância foi associada a diferenças na actividade cerebral demostradas por imagens do cérebro. Este é o resultado de um estudo controlado com placebo, do Instituto de Psiquiatria do Kings College de Londres, Reino Unido, sob a orientação do Professor Philip McGuire, director do Departamento de Estudos sobre Psicose do instituto. A amostra foi subdividida com base numa escala usada para medir a intensidade dos chamados “sintomas positivos" em esquizofrénicos após a administração de THC. Constatou-se que 11 participantes demonstraram sintomas psicóticos transitórios (mudanças de percepção, sensação de grandiosidade, etc) mas que os restantes 10 participantes não demonstraram tais sintomas.

Ambos os grupos mostraram uma activação diferencial em certas regiões cerebrais (na circunvolução parahipocampal esquerda, circunvolução temporal medial esquerda e direita e no cerebelo direito). Nestas regiões, o THC teve efeitos opostos sobre a activação em comparação com o placebo nos dois grupos. Os sujeitos psicóticos transitórios também mostraram uma menor activação do que o outro grupo na circunvolução média temporal direita e no cerebelo, independentemente dos efeitos do THC. Concluiu-se "que a presença de sintomas psicóticos foi associada com um efeito diferencial de THC na activação do córtex temporal ventral e medial e do cerebelo, sugerindo que estas regiões estão envolvidas no efeito da droga sobre os sintomas psicóticos ."

Atakan Z, Bhattacharyya S, Allen P, Martín-Santos R, Crippa JA, Borgwardt SJ, Fusar-Poli P, Seal M, Sallis H, Stahl D, Zuardi AW, Rubia K, McGuire P. Cannabis affects people differently: inter-subject variation in the psychotogenic effects of Ä9-tetrahydrocannabinol: a functional magnetic resonance imaging study with healthy volunteers. Psychol Med. 1 de Outubro 2012:1-13. [na imprensa]

Ciência/Humanos — O risco de desenvolvimento de desordens de ansiedade pode depender de certas variantes genéticas do receptor de canabinóide-1

A capacidade de apagar experiências terríveis depende da variabilidade genética do receptor CB1. Este é o resultado de uma pesquisa com 150 indivíduos saudáveis do Departamento de Psicologia Experimental e Psicofarmacologia da Universidade de Utrecht, na Holanda. A incapacidade de extinguir o medo pode conduzir a uma ansiedade persistente, que é considerada como um mecanismo importante para o desenvolvimento de transtornos de ansiedade, como o transtorno de stress pós-traumático. Os participantes foram submetidos a um procedimento de condicionamento e extinção do medo num ambiente de realidade virtual. O condicionamento do medo é uma forma de aprendizagem, na qual um estímulo aversivo (por exemplo um choque eléctrico) é associado a um estímulo particular neutro (por exemplo um som), resultando na expressão de respostas de medo ao estímulo originalmente neutro.

A aquisição e expressão do medo condicionado são os mesmos entre os participantes com diferentes variantes genéticas do receptor canabinóide-1. No entanto, a extinção do medo não ocurreu em 51 participantes com uma determinada variante genética. Os autores concluíram que estes resultados sugerem "o envolvimento do sistema endocanabinóide humano na extinção do medo. As implicações são que a variabilidade genética nesse sistema pode ser a base de diferenças individuais na ansiedade, tornando o receptor canabinóide um alvo potencial para novos tratamentos farmacológicos de transtornos de ansiedade. "

Heitland I, Klumpers F, Oosting RS, Evers DJ, Leon Kenemans J, Baas JM. Failure to extinguish fear and genetic variability in the human cannabinoid receptor 1. Transl Psychiatry. 25 Set 2012;2:e162.

Notícias

EUA — A cidade de Los Angeles deroga a proibição de dispensários de cannabis medical

O conselho municipal da cidade de Los Angeles votou a revogação da recém-promulgada lei que proibia os dispensários de cannabis medical, evitando assim um referendo no próximo ano que, segundo as declarações de algumas autoridades, iria provavelmente reverter a proibição. O conselho votou em Julho a proibição dos dispensários de cannabis. Mas os defensores da cannabis medicinal reuniram em Agosto as necessárias 27.425 assinaturas válidas para submeter a decisão a um referendo em Março 2013. Muitos dos dispensários de cannabis da Califórnia são ameaçados por medidas repressivas do Governo Federal uma vez que violam a lei federal.

Reuters de 2 de Outubro 2012

EUA — Lei da cannabis medicinal entrou em vigor no Connecticut

Apesar de ter sofrido alterações, a lei que permite o uso medicinal da cannabis em pessoas que sofrem de doenças debilitantes específicas, entrou em vigor a 1 de Outubro. Mas pacientes e defensores estimam que podem passar-se meses antes que tenham um acesso legal e seguro à planta. A Assembleia Legislativa estadual votou na última primavera a criação de um sistema de registro e fiscalização dentro do Departamento de Defesa do Consumidor para o uso da cannabis medicinal. No entanto, o estado ainda não disponibilizou os formulários necessários aos farmacêuticos individuais para a construção e mantimento de instalações seguras destinadas ao cultivo de cannabis medicinal.

Norwich Boletim do 23 de Setembro 2012

Ciência/Humanos — Os níveis de anandamida aumentam com a apneia do sono em pacientes que sofrem pressão arterial alta

Num estudo clínico, pacientes com apneia do sono mostraram correlações positivas entre pressão arterial e concentrações de anandamida no sangue. Os autores afirmam que os "dados sugerem um papel anteriormente não reconhecido do sistema endocanabinóide na regulação da pressão arterial em pacientes com alto risco de hipertensão e doenças cardiovasculares."

Instituto de Farmacologia Clinica, Faculdade de Medicina de Hannover, Alemanha.

Engeli S, et al. J Hypertens. 1 de Outubro 2012. [na imprensa]

Ciência/Humanos — Os astronautas da EEI apresentam concentrações sanguíneas elevadas de endocanabinóides

A exposição crónica mas bem-tolerada à ausência de gravidade, e os factores de stress emocional e ambiental na EEI (Estação Espacial Internacional) durante 6 meses, conduziram a um aumento da concentração de endocanabinóides no sangue dos astronautas que voltou aos níveis basais após o seu retorno.

Departamento de Anestesiologia, Klinikum Großhadern, Universidade de Munique, Alemanha.

Strewe C, et al. Rev Neurosci 2012;0(0):1-8.

Ciência/Animais — Os canabinóides aumentam a produção de urina

Em estudos realizados com ratos, o THC e outros canabinóides, que activam o receptor CB1, aumentam a produção de urina em função da dose administrada.

Hospital McLean/Faculdade de Medicina de Harvard Belmont, EUA.

Paronis CA, et al. J Pharmacol Exp Ther. 27 de Set. 2012. [na imprensa]

Ciência/Humanos — Nível endocanabinóide associado com o risco de problemas cognitivos após cirurgia cardíaca

Os pacientes que desenvolveram episódios de delírio após uma cirurgia cardíaca tinham níveis de endocanabinóides 2-AG no sangue significativamente mais baixos do que antes da cirurgia. Os doentes com depressão 6 meses após a cirurgia tinham níveis significativamente menores de anandamida e 2-AG durante e logo após a cirurgia.

Departamento de Anestesiologia, Klinikum Großhadern, Universidade de Munique, Alemanha.

Hauer D, et al. Rev Neurosci. 24 de Set. 2012;0(0):1-10. [na imprensa]